quarta-feira, 20 de março de 2013

Linha de Montagem

Toca a sirene d'entrada
Da fábrica onde estou empregada
E entra humano formigueiro
Para trabalhar o dia inteiro.
Nos nossos postos ja colocados,
Terminamos trabalhos inacabados.
Fios coloridos uns vão puxando
E nos conectores colocando.
Outros, fazem rápidos enfitamentos,
Uniões e enganos desatentos.
"Zero defeitos!" nos nos vem exigir,
Numa cablagem pronta a sair.
Ensurdecem os ouvidos adoecidos
Pelas máquinas que libertam rugidos,
Ou assobios deveras irritantes,
Que se vêm tornando stressantes.
Ueeeeeeeeé! Ueeeeeeeeé! Ueeeeeeeeé!
Sirene d'entrada, todos de pé!
Tchec Tchac Tchec Tchac Tchec Tchac
Máquinas de corte em zigue-zague.
Vruuum! Vruuum! Vruuum!
Movem os motores um a um.
Zig Zig Zig Zig Zig Zig
Vêem-se as pranchetas a fugir.
Agora os fios que se unem,
Depois as uniões que se fundem,
As negras fita-colas que se desenrolam
Nas cablagens em que se enrolam.
O tic-tac do relógio constante
A lembrar o tempo restante.
O nervosismo da rapidez,
Dos trabalhos que correm com fluidez.
Vem enfiiiiiiiiim a hora do almoço
E todos fogem em alvoroço.
Devoram a comida apressadamente
E engolem um café bem quente.
Voltam para o posto para trabalhar,
Quase sem tempo para respirar.
Recomeça tudo outra vez
E continua-se o que ainda se não fez.
Instala-se novamente a confusão,
Que gera problemas de audição,
Enxaquecas, cortes e tendinites,
Varizes, stresses e artrites,
Para que se faça a produção,
Por uma fraca recompensação.
Grita então a sirene de saída,
Saem todos em fugida
E chega assim a paragem
Dum dia na linha de montagem.

Vera Novo Fornelos
(Poeta/Escritora Portuguesa)

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