No Índico chamam-me “Menino
do Mar” porque nasci lá perto, bem junto ao Rio dos Bons Sinais, em Quelimane.
Sim, “Menino do Mar” e nunca me deram outro nome, que não este. E em mim moram
Zambezes e Tejos. Há quem me chame “Mariñero”. No Golfo da Biscaia também me
chamam “O Mar” e junto ao Mar Tirreno chamam-me “Do Mar”. Curioso, nunca me lembrei
de tanta coincidência junta, diziam as antigas lendas africanas, que lá nos
mares distantes, bem longe, haviam abismos medonhos e profundos. Terei eu algum
abismo profundo que abrigo desde tempos imemoriais? Sei, como corpo estranho,
que me encontro preso nas entranhas de mares distantes mais a norte, junto ao
Atlântico e a fala do mar Índico, que transporto ecoa ao longe, lá muito ao
longe, faz tempo, muito tempo. Se eu não chegar ao meu destino, chegará o meu
pequeno barco de sonhos, que procura um destino seguro.
Delmar Maia Gonçalves
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