domingo, 20 de janeiro de 2013

Homenagem a Fernando Couto


É com profunda consternação que o CEMD tomou conhecimento do desaparecimento físico do grande "Vulto" da cultura Moçambicana.
Até Sempre Fernando Couto!

 
FERNANDO COUTO



«Comecei, como então era costume, por fazer quadras, que, porém ficavam muito longe de ter a esplêndida expressividade e beleza das quadras populares que formam o Cancioneiro Popular Português.
Nasci nos arredores do Porto, um ambiente de arrabalde citadino e ainda de alguma ruralidade, o que me tornou apaixonado da natureza. Estudei no Porto, onde beneficiei daquele ambiente muito vivo que era o dos finais da Segunda Guerra Mundial. A minha adolescência tirou muito proveito do que aprendi nos cafés como complemento do ensino. Foi aí que li a imprensa francesa clandestina que era publicada escapando da censura da ocupação alemã. A poesia de resistência representada por esse mago que foi Aragon, por Éluard, Supervielle e outros seduziu-me a tal ponto, que em 1944, completei o meu primeiro livro, que ficou para sempre inédito e se chama Amada de Nome Indizível. Do conjunto enviei um poema ao Adolfo Casais Monteiro que me escreveu a animar-me e a pedir autorização para publicar um na nova revista denominada Mundo Literário, na qual fui o segundo, logo a seguir a Jorge Sena. Ao mesmo tempo publiquei, poesia de «engagement», como era moda, em jornais de Famalicão e da Póvoa do Varzim.

Vivi na Beira durante 20 anos. Era um ambiente cultural interessante e por isso aí publiquei os meus primeiros livros:

Poemas Juntos à Fronteira, respondia a uma crença de que o Mundo vivia um momento de transição que já tardava, já era mais utopia do que crença justificada: não chegou a transpor a fronteira que o levaria a uma vivência de humanidade mais justa, mais fraterna.O desencanto, esse, ganhou voz na Jangada do Incoformismo; o barco tinha naufragado, mas eu, incoformado, navegava ainda numa jangada. Ainda no mesmo ano, ganhei o concurso da Câmara Municipal e, com esse dinheiro, publiquei O Amor Diúrno, um conjunto de poemas sensuais e eróticos. Em notória diferença de conteúdo publiquei Feições Para Um Retrato.

No total das seis obras, publiquei apenas 183 poemas, Entretanto fiz muitos mais, obedecendo a estados de alma muito variados e um tanto espaçados, mas que me não pareciam dignos de publicação e acabavam no cesto dos papéis

Os dois últimos livros publicados em Maputo: Monódia deveu-se às amizades do António Sopa e do Calane da Silva. É muito resultado de um monólogo que mantinha comigo desde longa data. Já Os Olhos Deslumbrados é a expressão de muitos motivos de deslumbramento que a vida tem proporcionado aos meus olhos.E ainda organizei e encontra-se inédita a antologia Amor Solar, com poemas desde o antigo egípto e de várias culturas até ao século XIX.
Apesar de muito admirar o Octávio Paz, prefiro a definição de Louis Mac Neice: «a poesia é um instrumento de precisão para fixar a reacção de um Homem à vida».»

Fernando Couto

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OBRAS DO AUTOR
Poemas junto à fronteira - Beira, 1959. Edição do Autor;
Jangada do incoformismo - Beira, 1962. Colecção «Poetas de Moçambique»;
O Amor Diurno - Beira, 1962. Edição doAutor;
Feições para um retrato - Beira, 1871. Edição ATCM;
Monódia - Maputo, 2001. Edições AMOLP;
Os Olhos Deslumbrados - Maputo, 2001. Edição Ndjira;
Rumor de Água ( Antologia Poética)- Maputo, 2007. Edição Ndjira;


TRADUÇÕES
Rubayyat, de Omar Khayyam  - 1.ª edição Morais editor, 1981; 2.ª edição Estampa, 1990;
Ladrões de Prazer -Antologia da poesia Hispano-árabe, 1991;
Dez poetas espanhóis do século XX - Ndjira, 2003.


JORNALISMO EXERCIDO
TEMPO INTEIRO
O Século - Lisboa
Notícias - Beira e Maputo
O Comércio do Porto - Porto

CORRESPONDENTE
Jornal de Notícias, em Maputo e na área do Douro-Sul
O Comércio do Porto em Maputo

COLABORADOR
Notícias da Beira - Beira
Diário de Moçambique - Beira
Notícias - Delegação da Beira
Europeu - Lisboa
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NA RÁDIO
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Rádio Moçambique - Maputo


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