segunda-feira, 4 de março de 2013

Thanatos-Katharsis


 vi-a de relance, inerte, quase como um

fantasma, naquele miradouro, à beira-mar.



o vento percorria-lhe o corpo e beijava-lhe a

face, secando-lhe as lágrimas que corriam,

inadvertidamente, e se confundiam em

salpicos de a.mar.



a dor que a invadia soltava-se... e

contemplava a linha do horizonte com

vontade de lhe tocar.



viu um pássaro, por entre nuvens.

era o seu espírito, errante, em busca

peregrina de si.



as ondas, nas rochas, deixavam um rasto

de espuma.

fragmentação, confusão, eis o reflexo de

sua mente.



e o seu corpo? queria, tão somente,

caminhar em direcção ao mar.



pela primeira vez, não sentiu medo, embora

a maré estivesse cheia e com fortes

correntes.

imaginou-se a caminhar no mar, tal como

Jesus o fizera, e simplesmente deixar-se

morrer...



guardaria espaços de silêncio em tempos

secretos...



sussurrei para que não partisse.

para que não se soltasse das amarras de

amor que ainda a prendiam em terra,

embora se sentisse ilha, náufraga, num

vazio que percorria as suas veias em vez

de sangue, tal a intensidade da ausência...



continuou inerte, mas projectou-se rumo ao

mar.

e morreu.



Ana Margarida Cristo
(Poeta Moçambicana) 

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