vi-a de relance, inerte, quase como um
fantasma, naquele miradouro, à beira-mar.
o vento percorria-lhe o corpo e beijava-lhe a
face, secando-lhe as lágrimas que corriam,
inadvertidamente, e se confundiam em
salpicos de a.mar.
a dor que a invadia soltava-se... e
contemplava a linha do horizonte com
vontade de lhe tocar.
viu um pássaro, por entre nuvens.
era o seu espírito, errante, em busca
peregrina de si.
as ondas, nas rochas, deixavam um rasto
de espuma.
fragmentação, confusão, eis o reflexo de
sua mente.
e o seu corpo? queria, tão somente,
caminhar em direcção ao mar.
pela primeira vez, não sentiu medo, embora
a maré estivesse cheia e com fortes
correntes.
imaginou-se a caminhar no mar, tal como
Jesus o fizera, e simplesmente deixar-se
morrer...
guardaria espaços de silêncio em tempos
secretos...
sussurrei para que não partisse.
para que não se soltasse das amarras de
amor que ainda a prendiam em terra,
embora se sentisse ilha, náufraga, num
vazio que percorria as suas veias em vez
de sangue, tal a intensidade da ausência...
continuou inerte, mas projectou-se rumo ao
mar.
e morreu.
Ana Margarida Cristo
(Poeta Moçambicana)
(Poeta Moçambicana)
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